quinta-feira, abril 30, 2015

Das Linhas de Torres ao Estádio da Luz


Antes de escrever sobre esta prova, vou tentar resumir rapidamente o que aconteceu desde o meu último post, quando torci o pé em Maio do ano passado. Desde então, e apesar de não ter tido grandes provas, tive muitas aventuras. Em Junho ainda não conseguia correr, mas tive um excelente período de férias! Que começou com um retiro de yoga. Um fim de semana com muita prática e que serviu de preparação para o que viria a seguir. E o que fiz a seguir? Meti a mochila nas costas e fui a pé de Lisboa a Santiago de Compostela. Foram 19 dias repleto de experiências, com um total de 652km percorrido pelo Caminho Central Português. E para finalizar as férias, no dia 6 de Julho participei em uma corrida de 10km com o pessoal do trabalho. Foi a primeira vez que corri desde que havia torcido o pé; corri com uma pequena dor, suportável, e terminei a prova em pouco mais de uma hora. Desde então fui começando a treinar aos poucos, mas sem nenhuma regularidade. Ainda participei de pelo menos em mais 2 provas de 10k antes de fechar o ano de 2014… E em 2015 comecei a aumentar os treinos. Tanto a frequência, quanto as distâncias. Participei em uma prova de 20km sem pagar inscrição; depois fiquei de consciência pesada por ter recebido a medalha de participação, não volto a repetir. Também participei na Meia Maratona de Lisboa e bati o meu recorde pessoal com o tempo de 1:48:53. E é esse o meu resumo…

Ultra trail Longo Linhas de Torres (40k)

Voltando às Linhas de Torres. Uma semana antes da prova fiz um treino de 39k por Lisboa, o que acabou por se verificar um exagero. Estava um dia de sol, o treino foi bom, mas exigiu bastante. Durante a semana sentia mesmo as pernas bem cansadas, e comecei a sentir uma dor logo abaixo da virilha, na perna esquerda. No dia anterior a prova fiz um treino leve de 6k e ainda sentia as pernas cansadas. Mas tinha certeza que iria completar a prova.

Foto tirada no último treino longo (39k) antes da prova.
No dia 18 cheguei a Torres Vedras por volta das 8h (a partida era às 9h). Tive tempo de buscar o dorsal e assistir os atletas da prova principal (70k) partirem. Tomei um café com calma. Pouco antes da partida precisei aliviar (ainda bem que foi antes da prova!) e a Natércia teve que ir buscar papel higiénico na casa de banho (banheiro) das mulheres, que na dos homens não tinha; e acabou tendo que repetir a operação para outros atletas que também precisavam de papel. Aflição resolvida a tempo, ainda estive a tirar fotos com a Natércia quando foi dada a partida. Fui dos últimos a sair, ainda guardando o telemóvel (celular) na mochila. 



A dor na virilha não incomodou e fui seguindo o meu ritmo, tranquilo. O primeiro abastecimento foi aos 9k. Praticamente nem parei, tomei só um gole de coca-cola e segui em frente. Mais ou menos aos 20k foi o ponto mais alto da corrida, a Serra do Socorro. Subi tranquilo, estava bem. O visual é fantástico! O forte vento neste ponto, somando com a tshirt molhada de suor, incomodava um pouco. Tinha o corta vento na mochila, mas nem usei. Neste ponto foi o segundo abastecimento. Havia sopa de legumes e fiquei com vontade, mas a senhora da organização não tinha certeza se havia ou não ingredientes de origem animal. Preferi não correr o risco. Tomei coca-cola e comi alguns frutos secos. 


Logo  depois passou um rapaz por mim e disse "o mais difícil está feito". Ele estava a referir-se a subida da Serra do Socorro. Sim, era a maior subida da prova e era bastante íngreme. Mas será que era realmente a mais difícil? Intimamente fiquei com um pé atrás... A descida a seguir a Serra do Socorro foi muito boa, mas quanto terminei sentia a sola do pé a queimar. Pensei logo que poderia estar se formando bolhas no meu pé. Nem quis ver, tinha que aguentar até o final. Depois foi mais uma grande subida, um pouco menor que a maior de todas (e essa já custou mais), e uma descida brutal, por uma trilha cheio de pedras e rampas utilizadas pelo pessoal das bikes. Eu adoro descidas! Por isso soltava as pernas e ia em grande embalo, saltando rampas e obstáculos. No final meu pé parecia estar pegando fogo e que as bolhas tinham todas estourado. Mas segui aguentando...





No 3º e último abastecimento enchi a bolsa de água e comi um pouco mais, para além dos frutos secos, também frutas e batata frita. Já sentia bem o cansaço, e por isso neste abastecimento demorei um pouco. A parti daí as subidas que eu encontrava já não eram tão altas, mas eram muito íngremes e difíceis. Meus pés queimavam e minhas pernas gritavam para parar. Já nem sei quantas vezes pensei em desistir, mas no final conseguia subir o monte e continuar. Afinal o rapaz da Serra do Socorro estava enganado...

Em uma dessas subidas eu parei ao meio para respirar e pensar em desistir. Mas ao olhar para o chão, vi uma formiguinha a carregar qualquer coisa tentando subir o trilho. Ela subia, depois escorregava e rolava para baixo. Fiquei vendo ela tentar umas 3x, e não desistia. Eu também não poderia desistir. Segui em frente!

Por volta dos 35k ia passando por um rapaz e ele me perguntou se não tinha água. Parei, tirei a mochila e dividi a água que tinha com ele. Depois dessa paragem quebrei completamente e mal conseguia correr, a não ser nas descidas. Custou muito os 5k finais. Apesar de serem poucos quilómetros, eram subidas atrás de subidas. E para finalizar, uma subida até o castelo...




A Natércia estava me esperando na entrada e ganhou um beijo. Terminei a prova com o tempo oficial de 5:53:23, em 23º na Classificação Geral. Eram 60 participantes e 44 completaram a prova. Não houve medalhas de participação, apenas um pin para prender na mochila (o que eu já fiz).

Foi um trail muito duro, e  eu corri com ténis de estrada, minimalista. Esse foi outro exagero meu! Como vinha treinando sempre com esse ténis (Noosafast 2), mesmo quando treinava nos trilhos de Monsanto, achei que ia aguentar na boa. Mas com aquela sola fina e aqueles trilhos duros, eu sentia tudo. Lição aprendida!

Além dos abastecimentos oficiais, levei na mochila apenas 3 barrinhas de amendoim e castanha caju com açúcar (tipo pé de moleque), e algumas castanhas de caju. Só comi meia barrinha e alguns cajus...

No final minhas pernas estavam destruídas, e ao tirar o ténis não havia bolhas. Foi mesmo a sola fina que fez meu pé queimar. Ainda recebi uma massagem, que parecia mais uma sessão de tortura, pois onde o massagista apertava mais, era nos locais em que tinha mais dores. Fiz todas as caretas possíveis!


No final o saldo foi mais que positivo, nunca estive em tão boa forma. E sem seguir nenhum plano de treino...

10ª Corrida do Benfica

Umas semanas antes a Prosegur me ofereceu um convite para a Corrida do Benfica e eu aceitei, mas na hora nem reparei que era no dia seguinte às Linhas de Torres. Então, no dia seguinte, em vez de descansar, fui participar em uma prova de 10k. Claro que não iria fazer um bom tempo. O maior esforço foi mesmo completar a prova. Mas fui sem medo, e sem pressa. Aproveitei para tirar uma foto dentro do estádio, e terminei em 59min, o que até achei bom.


Pensando em como foi dura estas provas, fico imaginando como vai ser a próxima, que é já no dia 3 de Maio. Serão 60k e terei que enfrentar os meus fantasmas, pois foi onde torci o pé no ano passado. Sem falar que já começo em desvantagem, pois a dor abaixo da virilha continua, apesar de ter diminuído um pouco.

Mas vou dar luta, o Ultra Trail de Sesimbra que me espere!!!