quinta-feira, fevereiro 27, 2014

XXX Maratón de Sevilla

Desta vez não irei relatar apenas o dia da corrida, mas inclusive os dias anteriores. Afinal foi minha primeira corrida fora de Portugal, e a aventura comecçou muito antes. Eu e a Natércia saímos na sexta, dia 21, por volta das 10h. Eu fui conduzindo os 400km até Sevilha, e ainda andamos meio perdidos pela cidade até achar o estacionamento. Como o hotel ficava no centro da cidade e não tinha onde estacionar, deixamos o carro no estacionamento do El Corte Inglês, que era próximo. Logo a caminho do hotel já fiquei com boa impressão sobre as pessoas locais, pois um rapaz ao nos ver cheios de malas  e meio perdidos procurando o nome da rua, veio logo nos ajudar; indicou o nome da rua e onde era o hotel. O hotel era simples e barato, com uma estrela apenas. Porém era bonito, com uma arquitetura árabe. Mais do que suficiente para o que necessitávamos. O funcionário foi super simpático, nos deu um mapa da cidade e também nos ajudou com indicações de onde era e como chegar ao Palácio de Exposições, para buscar o dorsal. Podíamos buscar o dorsal até às 22h, portando descansamos um pouco e programamos de ir jantar primeiro. Já tinha anotado o nome e local de um restaurante vegetariano com opções veganas que fica perto do hotel. Quando lá chegamos o restaurante estava fechado, só abria às 20h e ainda eram 19h30, os espanhóis jantam mais tarde. Então resolvemos buscar primeiro o dorsal. A caminho do palácio também tivemos ajuda dos moradores locais, para pegar o transporte público correto e também a indicação do local certo para sair. Eu falava em português, eles respondiam em espanhol; niguém entendia nada, mas acabávamos por nos compreender. Maravilha! Quado chegamos no palácio eram 21h15 e já estava tudo fechado. Afinal eu me enganei e o horário para retirar o dorsal era até às 21h. Lá tivemos que levar novamente com a simpatia e disponibilidade dos espanhóis, o pessoal da organização que ainda estava no local me fez correr pelo parque, mas me entregaram o dorsal. A rapariga que me entregou ainda ficou impressionada e sorridente, achando que eu tinha vindo do Brasil para a maratona, não quis estragar a alegria dela. Fui o último a retirar o dorsal naquele dia. Oferta de tshirts são normais, mas desta vez ofereceram uma sem mangas (vai ser útil no verão) e também um short. De lá fomos ao restaurante, que se chama Gaia Bar Ecológico, e já estava aberto. Prato excelente para compensar o dia cansativo, e tomei uma cerveja biológica (orgânica) e sem alcool. Chegamos no hotel por volta da meia noite e fui dormir já passava da 1h. estava com a perna latejando devido a condução e ter andado bastante...



Como no dia 21 não tinha feito o treino que era suposto fazer, resolvi aproveitar a manhã do dia 22 para uma corridinha leve. Só tinha levado uma calça de corrida, que iria usar na maratona. então resolvi usar o short que me ofereceram. Eu não gosto de usar shorts por que não protegem de fricção da pele e como tenho a coxa grossa costumo ficar assado, mas já que a intenção era correr apenas 30min e bem de leve, pensei que não haveria problema. Nem passei vasilina. Acabei correndo 40min, sempre beirando o rio. Estava tendo um campeonato de remo, o que foi divertido assistir enquanto corria. Também já havia muita gente na rua, caminhando e correndo. Cheguei em casa por volta das 12h e estava assado um pouco abaixo da virilha, na perna direita. Me ferrei! Short para correr nunca mais, só vou utilizar este em casa mesmo... Fomos almoçar na Veganitessem, mas ao chegar lá descobrimos que não servem almoços. Experimentamos alguns doces e salgados veganos e fomos a procura de algum restaurante. Tentei encontrar um restaurante italiano para poder comer um macarrão, porém não tive sorte. Acabamos por decidir almoçar num chinês, onde pude comer macarrão com legumes e também uns crepes de legumes, tudo com muito óleo, porque os chineses adoram. E para beber, mais cerveja sem alcool.


De lá fomos andando por alguns pontos turísticos. Porque eu não resisto e tinha que conhecer a cidade. Sevilha é cheia de cervejarias, e todos adoram tapas. Dia e noite, muita gente na rua a socializar. Caminhamos e caminhamos por locais lindíssimos até chegar a Praça de Espanha. De lá voltamos para a casa no elétrico, pois já não aguentava mais andar. Antes de chegar ao hotel ainda compramos alguma coisa para comer no El Corte Inglês, tinha certeza que lá encontraria boas opções veganas. Levamos a comida para o hotel e não saímos mais. Fiz uma auto massagem nas pernas e passei um gel relaxante para recuperação. Fazer turismo e andar pela cidade pode não ter sido a melhor escolha para quem ia correr uma maratona no dia seguinte, mas não cosegui resistir e não me arrependo. Antes de dormir orei para que estivesse 100% na manhã seguinte.


Dia 23, o dia esperado! Acordei por volta das 6h30, tomei um duche, pasei a vasilina nas virilhas e axilas e me arrumei, comi aveia com bebidade arroz e soja e 2 bananas. Ainda tomei um café que tirei da máquina que havia na entrada do hotel. Na recepção do hotel estavam vários portugueses, tentei arranjar uma boleia (carona), mas já estavam com os carros lotados. Um ainda me disse que a distância até o estádio era grande, deve ter ficado preocupado por ver que eu não ia de carro e não faltava muito mais de 1h para o início da corrida. Sem stress, eu já tinha tudo estudado! Saí com a Natércia, atravessamos a ponte e pegamos o autocarro (ônibus) do outro lado do rio. Não foi preciso esperar muito e quando chegamos a zona da partida ainda faltava 1h hora para a corrida começar. No caminho conhecemos um casal de brasileiros que também moram em Portugal, assim a Natércia teria companhia enquanto me esperava. Estava frio de manhã, mas prometia esquentar depois. Eu estava apenas com a tshirt e os manguitos, mas quando já estávamos na zona da partida resolvi colocar o buff no pescoço. Também levava comigo dois géis. Foram 9000 inscritos e não havia outras distâncias de prova. Nunca vi tanta gente em uma maratona! Céu azul, ótimo clima, todos numa boa vibe.


A partida foi dada no horário programado. Eu já tinha tirado o buff do pescoço e prendido no pulso, devia ter jogado de volta para a Natércia, mas não o fiz... No 5km havia o primeiro posto de abastecimento, não estava com sede e continuei.  Pelo caminho haviam algumas pessoas a torcer e incentivar os atletas, na maioria amigos e familiares. Estava achando tudo muito calmo. Quando chegamos mais ou menos ao 10km a rua estava lotada, até a Natércia estava lá. Quando tem muita gente dando apoio o atleta anima mais. Nesta altura havia mais um posto de abastecimento, bebi um pouco de água e joguei a garrafa no lixo. Já sabia que os primeiros quilometros iam ser tranquilos. Ao 15km mais um posto de abastecimento, peguei uma garrafa de água e levei comigo. Logo após passamos pela La Macarena, a 1ª melhor parte do percurso, pois as centenas de pessoas que lá estavam acabaram por formar um corredor largo por omde tínhamos que passar. Todos super animados a incentivar os atletas, a Natércia também estava lá. Por volta do 18km tomei um gel e acabei com a água da garrafa, joguei tudo no lixo. A partir do posto de abastecimento do 20km a bebida estava sendo servida em copos, bebi água e isotónico e joguei os copos no chão mesmo, junto as mesas. A partir de então, em todos os postos de abastecimento bebi água e isotónico. No 23km peguei uma esponjinha que levei sempre comigo, nos postos de abastecimento havia bacias com água onde eu molhava a esponja e passava na testa e nuca para refrescar. Gostei de usá-la! O clima estava esquentando e eu sentia o calor. Os manguitos não incomodavam tanto, mas em determinada altura resolvi tirá-los e foi refrescante. O buff também não estava servindo para nada, até que tive a idéia de mete-lo na cabeça e molhá-lo. Ótima idéia! Parecia que eu tinha sempre uma esponjinha refrescante na cabeça... Em determinada altura, já não lembro em que km exatamente, começaram a aparecer bandas pelo caminho. Em uma parte era um grupo de capoeira. Bem mais animado assim! No 25km, além das bebidas, comi 1/2 banana. No 30km tinha geis para os atletas, eu já tinha usado os meus, então peguei mais 2 que usei até o fim da corrida. Quando entramos na Praça de Espanha e demos a volta ao chafariz, foi a 2ª melhor parte do percurso, pois o lugar é lindíssimo e estava animado com banda e muita gente. O centro da cidade, por volta do 35km, foi a 3ª melhor parte do percurso, centenas e centenas de pessoas faziam um correrdor estreito por onde os atletas passavam e levavam com os icentivos e apoio. Foi brutal!!! Por todo o percurso, adultos e principalmente crianças esticavam a mão para que os atletas tocassem em cumprimento e incentivo. Muitas pessoas me incentivavam me chamando pelo nome (liam o nome no meu dorsal). Isso era bom demais, nem sei como agradecer! Depois do 36km já estava bem cansado e acabei por caminhar algumas partes. Dava para ter aguentado sem caminhar, faltou um pouco mais de força de vontade da minha parte. Mas o utlimo km fiz a correr e quando entrei no estádio de La Cartuja ainda consegui acelerar um pouco até chegar a meta final. Depois de terminar a havia água, laranjas, isotónico, coca cola e cerveja. Dispensei apenas o isotónico e a coca cola. E finalmente tomei uma cerveja com alcool...

Terminei com o tempo real de 04:05:53 e em 5922 na classificação geral. Foram 7970 atletas que terminaram a corrida no tempo permitido. Dos 9000 inscritos, apenas 1614 eram estrangeiros. E metade dos estrangeiros eram portugueses (819). Brasileiros haviam 11, e tenho certeza que a maioria veio de Portugal.

 Video da minha chegada filmado pela Natércia

Quando encontrei a Natércia ela estava junta com outro casal brasileiro, estes tinham vindo mesmo do Brasil para a maratona. Apenas o rapaz correu, e estava super animado, pois também melhorou seu recorde pessoal. Quando saíamos do estádio encontrei uma rapariga, a Mercedes Gonzáles, da União Deportiva Vegetariana, da Espanha. Fiquei contente de conhecer alguém do grupo Veggie Runners espanhol!


De lá eu e a Natércia seguimos para o Palácio de Exposições, pois tinha almoço gratuito para os atletas. Eu pensei que seria macarrão, mais me enganei. Tinha bastante coisa, mas aparte principal não era vegana. Então os voluntários encheram meu tabuleiro de frutas e uns snacks de trigo, nas mesas também havia frutos secos e e batata frita. Além de um doce vegano de figos, tamaras e frutos secos que tinha na mochila. Bebi cerveja oferecida pela organização. Após o almoço voltamos ao hotel para descansarmos. Eu ainda dei uma voltinha curta à noite... Na sexta de manhã deixamos o hotel. Eu voltei a conduzir pelo caminho de volta e mais ou menos às 12h já estávamos em Lisboa.


Esta banda estava animando o centro da cidade, apareço rapidamente em 0:40.

Uma história surpreendente nesta corrida e que só tive conhecimento depois, foi sobre a sueca Joasia Zakrzewski, uma doutora de 38 anos. Corredora da elite, na hora da partida ela tropeçou e foi literalmente atropelada. Com o joelho esfolado e o nariz a sangrar, conseguiu se levantar com a ajuda de outros corredores e continuou na corrida. Foi ultrapassando centenas de atletas e recuperando posições, terminou em 4º lugar na categoria feminina com o tempo de 02:41:27. Após terminar a corrida foi atendida pelos médicos e levada ao hospital, onde diagnosticaram uma fratura no nariz e uma fissura em uma das costelas, já passa bem e teve alta no próprio dia. Surpreendente a determinação e superação desta rapariga, fiquei impressionado!


Novamente li algumas críticas à organização, desta vez aos roupeiros, banhos e estacionamento. Para ser sincero estou ficando com a impressão de que a maior parte das críticas são meio exageradas (ou eu sou muito bonzinho e tolerante). Em provas com milhares de inscritos é óbvio que pode acontecer imprevistos e atrasos na entrega das roupas ou na saída do estacionamento. Se o atleta não previu e contou com isto, então é muito inocente. Se deu bem quem fez como eu e utilizou o transporte publico. Só tomei banho quando cheguei ao hotel, e isso foi depois de almoçar. Não tenho o que reclamar, achei a organização nota 10!

Sevilha é linda com a toda aquela arquitetura antiga e sua gente hospitaleira. O percurso da maratona foi ótimo, e por ser plano é uma ótima opção para bater recordes pessoais. Saí de lá com a sensação de que não tenho mais vontade de participar em provas mais curtas, a não ser que seja em trails ou para acompanhar algum amigo...

                                                   E com certeza uma prova a repetir!













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